Um brasileiro na Bielorússia

Para início de conversa você deve estar se perguntando: o que esse sujeito foi fazer na Bielorússia? Explico: estudo russo há algum tempo e surgiu a oportunidade de fazer um curso de vinte dias do idioma em uma universidade de Minsk, capital do país. Os custos do curso e da hospedagem eram quase nulos, principalmente se comparados aos da Rússia, então pensei: por que não? Imbuído desse espírito, junto a um pequeno grupo de brasileiros, no ano passado, arrumei as malas e fui à Bielorússia, ou Belarus, como alguns chamam.

Antes da viagem pouco sabia sobre o país. Meu conhecimento se resumia a poucas informações sobre a situação política, uma ditadura de muitos anos; a língua falada, russo, apesar do bielorusso também ser um idioma oficial; e, as características físicas das pessoas, todas brancas e quase sempre de olhos azuis, praticamente cópias da Gisele Bündchen espalhadas pelo país.É melhor pedir pelo número!

Depois de uma noite de viagem a bordo de um trem da década de 1950, saindo de Varsóvia, cheguei a Minsk. Tenho que confessar que apesar de já familiarizado com o alfabeto, ao sair da estação e ver tudo escrito em caracteres cirílicos, o choque foi inevitável, fiquei um pouco assustado. Na rua, ao ver o famoso Lada, carro muito utilizado na União Soviética, tive um pouco a sensação de estar voltando no tempo. Primeira parada, alojamento da universidade, no qual eu passaria meus próximos vinte dias. O lugar estava em obra e, como eu descobriria depois, boa parte da cidade também. O verão é aproveitado para isso. Era poeira para todos os lados, mas o local era agradável, tinha até geladeira e elevador, apesar desses, seguramente, terem mais idade que os meus pais. Depois de estacionar as malas me dirigi à universidade para fazer a inscrição no curso. O prédio era de dar inveja a qualquer universidade pública brasileira, tudo extremante limpo e novo. Esse primeiro dia foi longo e eu fui finalmente apresentado à famosa burocracia, que pouco deve ter mudado desde os tempos soviéticos.

O idioma logo se mostrou uma grande barreira. Meus conhecimentos da língua russa ainda eram um tanto reduzidos, e absolutamente ninguém, pelo menos entre as pessoas com as quais tive algum contato, falava inglês ou francês. Por isso, tive que aturar alguns semblantes não muito amistosos. No mercado, por exemplo, quando a caixa perguntava algo e eu dizia, em russo, “não entendo”, logo vinha a careta que tanto se repetiu, mas que ao fim da viagem eu já achava graça.

Eis que um dia, para meu espanto, o grupo de brasileiros do qual eu fazia parte foi levado a uma outra universidade, para conhecer um grupo de estudantes de relações internacionais que estudavam português. O espanto foi ainda maior ao ver que o português deles era muito bom, fluência perfeita, porém mais próxima do português lusitano. Conhecer aquelas pessoas foi como uma calmaria de sorrisos no mar de caretas bielorussas. Exageros causados pela distância à parte, eram pessoas muito agradáveis e extremante simpáticas, que estavam cheias de questões e curiosidades, o que, aliás, se fazia presente em ambas as partes. Com essas pessoas a língua já não era uma barreira e assim pude saciar meu lado antropólogo, frustrado até então.Igreja Ortodoxa Bielorussa

Conheci, enfim, vários lugares da cidade tendo como guias esses “luso-bielorussos”. Porém, como alegria de brasileiro dura pouco, uma menina desse grupo, no meio de uma conversa, me disse: “Você tem que tomar cuidado, há alguns anos atrás você nem poderia andar por alguns lugares daqui. Existem muitos grupos fascistas. Agora eles diminuíram um pouco, porque alguns jovens formaram grupos anti-fascistas para combatê-los, mas mesmo assim tome cuidado”. O que ela, em seu português, chamava de fascistas eram neonazistas. Eu já esperava algo assim, porque tinha lido que na Rússia existem muitos grupos desse tipo, mas logicamente fiquei preocupado.

É interessante relatar que contei o ocorrido a uma amiga do grupo de brasileiros, e ela sem entender nada, me perguntou: “Como assim, porque você teria que tomar cuidado?”. Acontece que para a “democracia racial” brasileira, eu sou moreno, uma denominação que as pessoas usam para escapar do que todos parecem ter medo de dizer aqui: “negro”. Cresci ouvindo minha avó dizer um ditado que parece que só serve para a Bielorússia, apesar dela nunca ter ido mais longe que o nordeste do Brasil. Dizia ela, para se referir aos pretensos morenos: “Passou de branco, preto é”. Minha amiga brasileira nunca deve ter ouvido esse ditado.Torcida do Dínamo de Minsk

Minha curiosidade antropológica me obrigou a ir a um lugar que eu já imaginava que seria um tanto complicado: um jogo de futebol. Apesar de não ser um esporte muito popular por aquelas bandas, o futebol na Rússia é muito associado a torcidas racistas e lá não poderia ser muito diferente. Vestido com esse espírito antropológico, cheguei ao estádio, e para meu espanto o policiamento lá era maior do que o destinado aos clássicos nos estádios do Rio de Janeiro. Dezenas de policias e militares cercavam o estádio e no seu interior tinha quase um policial para cada duas pessoas. O público, seguramente, não passava de quinhentos torcedores. O lugar, como em qualquer país civilizado, era marcado e me sentei bem longe da torcida “organizada”. Esta, apesar de pequena, cantava o tempo todo e fazia algumas saudações um tanto quanto parecidas com aquelas do alemão de bigodinho. A frente desta torcida, estavam estendidas diversas faixas. Todas faziam referência à violência e, no meio delas, escrito em letras bem grandes, havia o dizer “White Power”. Na mesma hora pensei indignado: “Pra isso eles sabem inglês, já na hora que eu vou ao mercado…”. Brincadeiras à parte, fiquei um pouco preocupado. A salvo pela grande distância, assisti ao jogo sem problemas, só fiz questão de sair um pouco antes do fim. Nada diferente de um clássico carioca.

Entretanto, durante a minha estada na Bielorússia, o neonazismo não passou de um fantasma que me assombrou durante parte da viagem. Nada de concreto ocorreu, pois a grande maioria das pessoas de lá pensam bem diferente desses grupos. O que aconteceu foi um grande sucesso das brasileiras e brasileiros com o sexo oposto, ou com o mesmo, variando de acordo com a orientação de cada um. Só uma única vez, vi um grupo de jovens devidamente paramentados no estilo (ou seria falta dele) neonazista: cabeças raspadas, suspensórios e coturnos. Passei ao lado do grupo, mas eles sequer olharam com maior atenção para mim.Estátua de Lênin em uma estação de metrô

Conhecida internacionalmente como a última ditadura européia, a Bielorússia até guarda algumas semelhanças com o Brasil, como por exemplo a maneira como as pessoas encaram a política, mas isso é um outro assunto que já não cabe aqui. Assim, quem quiser conhecer um lugar que foge ao senso comum das viagens, a Bielorússia pode ser uma opção. Afinal em que lugar do mundo você vai encontrar um McDonald´s em plena Rua Lênin, ou uma loja da Nike na Rua Karl Marx? Com o tempo percebi que as caretas e a grosseria eram um mal que afetava somente as pessoas que trabalhavam no comércio, mas não me pergunte por quê. Quem estiver interessado, consiga o visto, esqueça o inglês, treine bem a mímica e boa viagem.

Por Filipe Sarmento, com a colaboração de Ana Luíza Reyes.

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O que esse hindu tá falando aí?

A Índia está na moda. Antes mesmo do sucesso de “Quem quer ser milionário”, que ganhou o Oscar de melhor filme ao narrar a saga de um menino pobre de Mumbai, os brasileiros já estavam habituados às cores, mantras e dancinhas da terra das vacas sagradas. Desde janeiro, a atual novela das oito da TV Globo apresenta diversos aspectos da cultura indiana, com foco na religião hindu e na divisão por castas. Parece bom que costumes e valores culturais tão diversos dos nossos sejam apresentados ao grande público, no entanto é um erro pensar que a sociedade vista no horário nobreDharavi, a segunda maior favela da Ásia representa de fato a Índia atual.

Se “Caminho das Índias” se passasse no Brasil, sem dúvida seria uma novela de Manuel Carlos, ambientada no Leblon. Isso porque o folhetim se limita a mostrar uma Índia muito bonita, colorida e turística, bem diferente da existente nas áreas pobres do país. Em Mumbai, capital financeira da Índia, 54% dos habitantes, mais de sete milhões de pessoas, vivem em favelas, sem rede de esgoto, água, transporte público, com alta mortalidade infantil e poluição. A cidade abriga a segunda maior favela da Ásia, Dharavi, onde cerca de 800 mil pessoas dividem uma área de 175 hectares, o que significa uma média de três moradores por metro quadrado. Já na Índia do Projac, só há espaço para uma família de Dalits.

Como todos os últimos folhetins de Glória Perez, “Caminho das Índias” partiu das diferenças culturais entre os povos para mostrar, mais uma vez, que o amor verdadeiro pode vencer todas as barreiras. A novela trazia em sua trama principal as crises e questionamentos de dois jovens indianos diante da eminência do casamento arranjado. A rebeldia em relação aos costumes da sociedade era motivada pelo fato de ambos nutrirem paixões proibidas. Até aí, nada de novo. Muito antes de Romeu e Julieta, a fórmula do amor impossível já rendia boas histórias. Contudo, parece que o público cansou de ver e rever a mesma trama embalada em roupas e cenários originais. Ao contrário do que aconteceu com a cigana Dara, Júlio Falcão, Jade e o clone, em “Caminho das Índias”, os indianos abandonaram suas Firanghi e seus Dalits e ficaram juntos, com a benção da audiência.

O que parece nunca mudar nas novelas da autora é o retrato caricatural de algumas práticas culturais, como a dançaPersonagens dançam em "Caminho das Índias" clássica indiana que os personagens insistem em dançar a todo tempo e em qualquer lugar. Mais uma vez comparando com o Brasil, é como se nós vivêssemos sambando em casa ou no meio da rua, a qualquer hora do dia. O mesmo vale dizer sobre as expressões em hindi, como Are Baba e Baguan Keliê, que pontuam as frases dos indianos. Basta pensar que se a trama acontecesse em Minas Gerais, os personagens falariam “uai sô” ao final de cada frase.

A novela ainda se esforça para apresentar ao público a história dos deuses presente nos Vedas, porém o excesso de didatismo soa exagerado e, na maior parte das vezes, sem sentido para o público brasileiro, alheio a divindades tão singulares. Ademais, o folhetim retrata o hinduísmo como algo planificado, quando na verdade existem diferentes tradições e filosofias hindus, além de outras religiões, como o budismo e o islamismo. As regras religiosas, e principalmente a divisão em castas, recebem grande destaque na narrativa, dando a impressão que toda a sociedade é dividida e que essa cultura é seguida à risca, o que na prática não acontece.

Brahma, o deus criador do universoDiante da modernização econômica e do crescimento da ideologia capitalista, segundo a qual todo homem pode ascender socialmente com o esforço do seu trabalho, o sistema de castas vem perdendo força. Mas, apesar do tratamento sensacionalista que a tradição recebe em “Caminho das Índias”, o maior problema está no olhar do espectador ocidental, que pensa ser absurdo haver uma sociedade estratificada. Esquece-se que, apesar da aparente liberdade e possibilidade de ascensão, algo similar acontece entre nós. Afinal, também temos os nossos dalits.

Mas, a despeito de todas as críticas, “Caminho das Índias” não está nem além nem aquém do que se poderia esperar. Com recorde de 44 pontos de audiência, a novela mostra mais uma vez que o padrão globo de qualidade pode reproduzir cenários e vestimentas típicas com perfeição. Contudo, tantos detalhes servem apenas como pano de fundo para relações humanas baseadas no clichê. Em meio a uma cultura totalmente diversa, a trama esbarra em sentimentos tipicamente ocidentais, como se fossem universais e independentes de qualquer cultura. Parece que nas novelas brasileiras, sejam na Índia, no Marrocos, no Leblon ou no Projac, o amor nunca sai de moda. Tik?

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Desvie o olhar

Grafite no muro das obras do Teatro Municipal de São Paulo

Marcel Duchamp trouxe o cotidiano para o espaço da arte. E por que não dizer então que a street art leva a arte para o cotidiano? Milhares de pessoas passam diariamente por manifestações artísticas pelas ruas e nem se dão conta do museu a céu aberto que elas têm. É possível ver muita coisa interessante se, de vez em quando, os olhos se desviassem do “semáforo”, cruzamento, relógio ou smartphone. Ou talvez apenas precise ser turista para que detalhes tão preciosos fiquem em evidência.

Aqui está o que um olhar turístico pode capturar em São Paulo, a cidade que em cada esquina pode te oferecer uma obra de arte.

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Muro no Ibirapuera

Muro no IbirapueraMuro na rua de São Paulo

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Lugares Comuns

CIDADES, CHEIROS, PARTICULARIDADES (Perto ou Longe)

 

                                                                              R-B

Quando estamos em outro país e já descobrimos quase todas as atrações que apresenta esse lugar, procuramos “lugares comuns”, até nos acostumar à nova atmosfera.

Numa espécie de pesquisa vivencial se atravessará a cidade do Rio de Janeiro e Buenos Aires, para encontrar semelhanças frente a tanta diferença. 

Como para se sentir em casa quando se está tão longe, duas culturas se aproximarão pelas imagens e construções que elas apresentam.

Assim, uma livraria, um cinema, um restaurante, um bairro, representarão visuais semelhantes de duas cidades diferentes.

 

Logo de “sapatear” as ruas do Rio, experimentar os sabores, cheiros e até modismos na linguagem, podemos captar lugares comuns relacionados à nossa origem, neste caso portenha. A idéia surgiu do termo “no-lugar”, criado por Marc Augé que serve como base para este post embora se queira representar o contrário.

ADVERTÊNCIA: as comparações que se farão são totalmente arbitrárias e subjetivas, mas disso se trata os pontos de vista.

Pois bem, o no-lugar é definido como um espaço de movimento, trânsito constante que deixa a sensação de que aquele espaço não possui uma identidade intrínseca, ou seja, não nos permite diferenciar se estamos no Congo ou em Paris. Por exemplo, os aeroportos- pela suas estruturas e funções; eles são iguais tanto no Cairo como em Berlim, com mínimas diferenças e grandes rasgos comuns. Outro exemplo interessante são os hotéis de grandes nomes, um Hilton apresenta poucas variações em suas distintas filiais.

Aproximar o Rio e Buenos Aires nos mostra que existem identidades fortemente diferenciadas, mas que é possível se sentir em casa curtindo os mesmos hábitos e paisagens estando no Rio ou Buenos Aires. Aproveitemos este trânsito para perceber que as distâncias, às vezes, são nulas ou simbólicas. Comecemos a caminhar…

SUCO — CAFÉ   (Lanchonetes / Barcitos al paso)

Uma das primeiras coisas que percebi quando cheguei ao Rio é a pressa em que os cariocas fazem seus breaks,talvez minha comparação remeta ao ritmo dos cafés portenhos. Encontramos espalhadas por todos os cantos da cidade infinitas lanchonetes que vendem desde sucos até os melhores almoços com combinações de frutas, verduras e carnes. Em todo momento do dia se pode escolher qualquer ítem do cardapio, mas as melhores lojas ficam lotadas nos momentos de almoço embora exista uma grande circulação de pessoas. Se dito sistema fosse aplicado na capital Argentina seria necessário mais cadeiras impossibilitando essa rotatividade vertiginosa. Parados, sentados, apoiados no mostrador, olhando para a rua, como lugar de encontro para assistir o futebol, os “sucolândia” são um ponto primordial de todo carioca que começa ou termina o dia.

 O carioca não vive sem uma lanchonete.lanchonetes no RIO

 

Buenos Aires no outro lado tem o ritual do café, no falta o dia em que as pessoas para fazer tempo, para se encontrar e bater um papo ou até para fazer negócios, sem duvidar encontram-se em um “barcito” que sem maiores esforços se localiza em quase todas as quadras da cidade. Obviamente o ritual é diferente, pessoas podem estar horas, literalmente, numa mesa consumindo um só café, olhando um livro, lendo o jornal. Suas estruturas são referentes de cada bairro, de diálogos e de se sentir como um espaço de extensão da casa.

 

    Café en Buenos AiresE o portenho não começa seu dia sem um bar

LARGO DE CARIOCA—SAN TELMO 

                                                                                                                                                                                                                                                                       São Francisco, Largo de CariocaSan Francisco, San Telmo

As igrejas tem sido uma parte fundamental de toda a região latino-americana, mas o curioso aqui é que tanto o Rio como Buenos Aires apresentam dois bairros com várias igrejas tradicionais nos arredores. Fazendo umas poucas quadras se pode atravessar o circuito sacro. No alto a Igreja de Santo Antônio, de São Francisco, a poucas quadras a Catedral Metropolitana.

 Em Buenos Aires o bairro de San Telmo permite caminhar pelo circuito das luzes, nos eternos labirintos subterrâneos da época colonial. Já na superfície, igrejas como São Francisco ou San Pedro Telmo podem impressionar a qualquer pedestre.

BOTAFOGO— PALERMO

Uma tarde quente, uma cerveja logo de um filme no Estação, um cachorro quente por R$1 ou simplesmente caminhar… podem ser algumas das opções do barrio carioca.

Os dois, boêmios, apresentam múltiplas alternativas para seus visitantes. Palermo com suas ruas intermináveis, o maior bairro da capital federal, parecem gerar a sensação de que qualquer um pode se perder, que as lojas trocam de localização em cada passo. Por isso é imprescindível pegar uns dos mapas de graça em qualquer canto palermitano para assegurar a direção dos pés. Podemos encontrar teatros underground, casas que fazem de videoclube e oferecem seus livings para curtir um cinema improvisado, restaurantes chiques, roupas de segunda mão, música, o verde das praças e sobre tudo juventude.

Botafogo, não sai dessa regra. Permite que o transeunte consiga se camuflar como um estudante tomando uma cerveja nos bares de Voluntários da Pátria; encontre os offs de marcas prestigiosas como Isabella Capeto, se liberte dançando forró em alguma academia ou assista um filme independente. Um programa convincente para qualquer dia da semana.

Voltando as origens e num vento veloz de saudades dos tempos modernos, podemos olhar o Rio que foi ou o Buenos Aires querido de algum século atrás. 

CINEMA ODEON— CINE METRO

                                   CineMetroCinema Odeon

Cinelândia e suas atividades visuais se reduziram ao Odeon, lugar do under, de festas atípicas e de muita nostalgia. Conseguiu manter seu símbolo que é o cinema a diferença do Metro, hoje casa de tango. Dois ícones de épocas douradas, de vestidos longos, de importações…

CONFEITARIA COLOMBO— CAFÉ TORTONI

Os grandes escritores, os intelectuais, a elite. Marcas de uma Europa próximas a latino-américa, de uma necessidade de criação de uma identidade, de esquecer origens e pensar no futuro, de nos aburguesar. Boêmios ou burgueses? A conjunção sana e prazerosa.

                                                                   

Colombo  Colombo II       

Cafe Tortoni Cafe Tortoni por dentro

Se falarmos de gastronomia, comecemos abrindo os sextos sentidos.

PÃO DE MEL— ALFAJOR

Ambos têm uma variedade incrível de receitas. É possível encontrar infinitas versões dos dois produtos, mas o clássico sempre vence a novidade. Ambos representam o seu país no exterior em formato de lembrança.

                                              Al-Pa

Texturas, ingredientes, sabores, histórias

Aguardando em Buenos Aires alguma loja que importe o produto, os brasileiros podem já podem saciar suas ansiedades com a filial Havanna paulistana.

MARKET IPANEMA— FRESH MARKET

Com o conceito de mercado rural em seu conceito e ambientação, estes dois restaurantes representam a nova gastronomia nas duas cidades. As misturas do clássico dos ingredientes em formatos contemporâneos acompanham o ritmo informal dos fins de semana nas metrópoles.

No novo bairro de Puerto Madero, Fresh Market permite aproximar a água no cimento de Buenos Aires ficando na beira do porto.

Fresh Market

 Em Ipanema, sem perceber que se está perto da praia o corredor comprido nos leva a um espaço, também com comida mediterrânea, do jardim de casa.

Market

 Sucos, aperitivos, condimentos acompanham as propostas não só de comida também de venda de produtos.

 

MÚSICA

Uma cidade sempre segue o ritmo de uma música. Caminhando é possível perceber esse Tum Tum Pá ou Taran Taran do sapateio da população. Dois lugares, em cada país, para sentir essa cadencia.

CANECÃO— LUNA PARK

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Sons do país ou do exterior, estes espaços abrem suas portas tanto a show de índole nacional como internacional. Conhecidos e emblemáticos possuem uma capacidade de transformação segundo as exigências do artista de turno. No caso argentino, tem transitado por ali boxeadores, competições de ciclismo, balés, peças de teatro…

O Rio também foi escrito nessas paredes, emblemático nos anos 70, muitos dizem que se ali se escreveu a história da musica popular brasileira.

TRAVESSA— ETERNA CADENCIA

E porque é necessário deixar estampado em letras para se assegurar a validade infinita das coisas, duas livrarias perfeitas para não só cheirar as páginas de várias gerações, mas também para escolher uma música, tomar o chá ou escutar, se estivermos com sorte, a nosso escritor preferido.

    livraria_da_travessa_Eterna Cadencia

Agora só resta caminhar, cheirar, escutar os passos e aproveitar as diferenças!

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Um filme, sete nacionalidades, múltiplas identidades

Quem quer se encorajar a fazer um intercâmbio certamente deve ver O Albergue Espanhol. A história se passa em Barcelona. Xavier (Romain Duris), um estudante francês de economia decide viajar à Espanha pelo Programa Erasmus Mundus de intercâmbio, com o objetivo de viver novas experiências culturais. Na França, fica uma saudosa namorada (Audrey Tautou), que o telefona vez por outra.

Em Barcelona, Xavier conhece um simpático casal, ainda no aeroporto, que lhe oferecem o sofá do apartamento como abrigo temporário. Posteriormente, ele encontra o lugar onde ficaria até o final da experiência: um antigo apartamento, dividido entre sete estudantes de nacionalidades diferentes, todos fazendo a mesma experiência que ele.

A partir de então Xavier passa  a relatar o que se passa dentro dele diante dessa vivência: o choque de identidades, a falta de referências em uma cidade ainda desconhecida, os novos amigos, as novas descobertas dentro da cidade, a confusão mental causada pelas novas e antigas referências, as festas, as novas vivências, as saudades da namorada francesa.

O que fica marcante no filme são os bons olhos de Xavier a praticamente tudo o que lhe ocorre; o apartamento caótico e mesmo sua confusão diante de sua identidade são mostrados de forma benéfica e com alguma poesia. A idéia que o filme passa é que Xavier tinha um espírito de intercambista: estava disposto a tudo, a todas as novas experiências, desgarrado do conforto de ter só uma identidade e sem preconceitos com as novas referências que encontraria pela frente. Talvez essa seja a melhor dica que o filme sugira para quem quer morar fora por uns tempos. Vale a pena ver!

 

Ficha Técnica

Nome original: L’Auberge Espagnole

Elenco: Romain Duris, Judith Godrèche, Audrey Tautou, Cécile de France, Kelly Reilly, Cristina Brondo, Federico D’Anna.

Direção: Cédric Klapisch

Produção: Espanha e França

Ano: 2003

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Jurassic Park Tupiniquim

Calma! Não se trata do lançamento de um filme trash sobre monstros pré-históricos vindos da selva amazônica que devoram turistas no alto do Corcovado. Pelo contrário. O Jurassic Park da vez é bem menos cinematográfico, mas bem real.

Sim, aqueles gigantes que dominaram o planeta há milhões e milhões de anos viveram em terras tupiniquins. Mais especificamente, no solo nordestino.

Na quase esquecida cidade de 79 mil habitantes chamada Sousa, encravada em meio à vegetação árida do Sertão, no interior da Paraíba, lá está: o Parque dos Dinossauros.

Muito diferente do parque do Spielberg, a área não tem dinos vivos, não conta com efeitos especiais, nem com investimentos milionários. Na verdade, mal conta com investimentos.

A conservação é um pouco precária e a entrada é gratuita. Uma pequena lanchonete e um singelo museu recepcionam os visitantes. O administrador não é um paleontólogo renomado, mas um senhor de cinqüenta e poucos anos, chamado Robson Araújo Marques. De pés descalços e barba de eremita, seu Robson cuida das terras que pertenceram a sua família e hoje são referência para a comunidade científica internacional.

Ali adiante, crianças se debruçam sobre uma ponte e escutam atentas à explicação de um instrutor. O que vêem parece mentira: pegadas originais de um Iguanodonte de mais de três Pegadas de Iguanodonte do Parque dos Dinosssaurostoneladas, que viveu na Terra há 130 milhões de anos. Mais a frente, o temido Tiranossauro também deixou suas marcas.

Dinossauros de várias espécies e tamanhos viveram naquela região, nas margens de um grande lago raso, hoje seco, formando um grande vale no meio da caatinga. Trilhas e pegadas de várias espécies de dinos podem ser vistas por toda parte, principalmene no leito do rio das Pedras e de outros córregos que cortam o vale. São leitos que secaram e acabaram fossilizando após as últimas passadas dos grandes répteis.

Tem gente que sai lá desconfiado: “Acho que é tudo montagem, não acredito não”, diz a dona de casa Maria da Conceição, visitante do Parque. Outros, como o jovem Marcelo Andrade, de 9 anos, saem encantados por descobrir que aquilo que parecia existir só nos filmes de Hollywood, viveu bem perto de casa. “Você viu? Eles deviam ser enormes!”, pergunta ele, sorrindo de orelha a orelha.

Não muito distante do Parque, outras pegadas de um dinossauro carnívoro fossilizadas no meio da caatinga também impressionam. Impressiona mais o fato e que para chegar lá é preciso passar por baixo de uma cerca de arame enfarpado, cruzar um caminho um tanto espinhoso e desviar de uns galhos que agarram na barra da calça. Alguns estudantes e professores de paleontologia se aventuram a explorar a área. Pesquisadores estrangeiros vão até lá só para estudar as pegadas. Mas, assim como o Parque dos Dinossauros, pouca gente conhece e nem os moradores sabem do potencial da pequena Sousa.

Falta de interesse da sociedade? Não. Falta de conhecimento, de investimento, de divulgação.

Sem contar com toda a rede de pesquisadores e cientistas, experimente falar de dinossauros para qualquer criança e veja que o resultado é quase sempre uma festa. Os maiores também se encantam. A atração é para a família inteira.

Curiosidade não falta e o interesse visível por esses gigantes do passado poderia ser uma nova fonte de renda para uma população empobrecida.

De acordo com o professor Ismar de Souza Carvalho, que é diretor adjunto do Instituto de Geociências da UFRJ e há mais de 20 anos estuda a região de Sousa, “Falta um programa maior de conscientização da população. Muita gente não sabe da importância que isso tem para a ciência e para a própria comunidade”.

Juntar a ciência com algo que pode virar atração turística é uma boa receita para o sucesso. O chamado turismo científico já é, em alguns países, uma atividade que movimenta milhões e atrai investimentos para regiões, melhorando a qualidade de vida da população. No Brasil, infelizmente, quase não é explorado e as autoridades mostram pouco interesse nesta questão.

Nossas terras tupiniquins, por incrível que pareça, são um grande tesouro para a paleontologia. Os urbanóides do eixo Rio-São Paulo pouco fazem idéia do que existe por aí. Lá naquelas terras áridas do Sertão, um pedacinho da história do planeta está marcado no solo e encravado nas encostas.

Dastilbe elongatus - peixe fóssil encontrado na Chapada do Araripe.Depois de viajar ao encontro dos dinos, imagine agora encontrar um peixe de água salgada numa chapada há 900 metros de altura no meio do sertão nordestino. Imagine também encontrar o esqueleto fossilizado de pterossauros, tartarugas marinhas e crocodilos milenares. Tudo isso está ali, na Chapada do Araripe, situada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.

A região tornou-se internacionalmente conhecida devido à quantidade e diversidade de fósseis do período cretáceo – entre 144 milhões e 65 milhões de anos atrás – encontrados em excelente estado de preservação.

E você? Já ouviu falar?

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Sorria, você está em Paris

Logo de início achei os franceses muito sérios. Tudo bem que debaixo de um frio de três graus negativos é difícil ficar rindo da vida, mas, nós estávamos em Paris e não conseguíamos nos conter. Entrávamos no metrô às gargalhadas, interrompendo o silêncio do vagão, sob os olhares assustados e repreensivos dos passageiros. Minha avó, com a idade já avançada mas o francês ainda impecável, adorava ficar puxando assunto com desconhecidos, em uma postura tipicamente brasileira. Uma vez, um homem se rendeu, fechou o livro e entrou na conversa dela. Era argelino.Digitalizar0003

Os franceses também não dão cantada, o que soa estranho para nós, afinal, toda brasileira que se preze já foi alvo de alguma gracinha masculina. A princípio, pensei que fosse culpa do inverno, pois com tantos casacos e sobretudos, é até difícil reconhecer o sexo de quem está sob a roupa. Contudo, mesmo no verão, enquanto as francesas abaixam as alças das blusas e levantam as saias para aproveitar o sol, seja nos cafés ou nos jardins, a indiferença masculina se mantém. Está aí um bom exemplo de que o determinismo climático de Gilberto Freire é uma grande furada.

O verão parisiense não perde em nada para o carioca, com temperaturas de até 42°C. Boa sugestão para quem não recebe em euro é levar garrafas d’água na bolsa e enchê-las nas fontes espalhadas pela cidade (afinal, o que não mata, engorda!). E se o assunto é economizar, a melhor opção é alugar um apartamento para temporada, pois assim é possível preparar as refeições em casa. Os restaurantes franceses são muito caros, com exceção dos fast food, que ninguém agüenta a viagem toda. E ir ao supermercado na França pode ser uma experiência interessante. Você encontra flajolets e cassoulets em lata, verduras e legumes descascados em embalagens descartáveis e frutas desconhecidas como physalis, rambutan e figos frescos. Mas não se intimide com os olhares desconfiados quando entrar no metrô cheio de sacolas. Os franceses não fazem compras de mês, provavelmente porque nunca tiveram que se preocupar com uma inflação de 2.751%.Turistas se aglomeram para ver a Vênus de Milo no Museu do Louvre

Assim, você pode guardar suas economias para aproveitar o que Paris tem de melhor. Vá a uma boulangerie e peça um croissant, sem recheio mesmo. É incomparável! Compre várias baguetes, patês, fromages. E se não estiver acostumado com queijos muito fortes, experimente os coulommiers. É melhor se esbanjar com as entradas, pois a culinária francesa padece da falta de prato principal. Fiz essa descoberta durante um jantar na casa de parentes, quando, depois de muita salada, com pães e patês, veio a sobremesa: um delicioso camembert. E foi só.

Na hora de passear, ande bastante. As ruas são limpas e os jardins são lindos no verão. Dizem inclusive que as flores são trocadas a cada dois dias. Mas, se precisar otimizar o seu tempo, esqueça os ônibus de dois andares e aproveite o sistema público de transportes. A cidade tem mais de 300 estações de metrô, espalhadas em 14 linhas, além dos ônibus e trens. Isso significa que você sempre está a 500m de uma estação e se estiver hospedado na periferia, pode chegar ao Centro em 20 minutos. A melhor opção é fazer uma “Carte Orange”, que te oferece passagens ilimitadas enquanto o bilhete for válido. É possível escolher o ticket semanal, mensal ou anual, de acordo com o seu tempo de estada, e usá-lo à vontade. Depois de um dia de verão de mais de 14 horas, já que o sol só se põe às 11 da noite, você não vai se arrepender.Ao fundo, o bairro de La Défense

É irrelevante lembrar que Paris tem mais de 70 museus, entre os quais o Louvre, D’Orsay, Rodin e Picasso, com lindas obras, até para quem não entende nada de arte. Isso sem falar nas inúmeras igrejas e obras arquitetônicas consagradas internacionalmente. Por isso, me reservo o direito de pular este capítulo e partir para um bairro menos badalado que me chamou muita atenção. La Défense, com seus tímidos arranha-céus, foge ao padrão bege-acinzentado, baixo e simétrico de Paris. É um ponto moderno, espelhado e com chafarizes coloridos, de onde se pode admirar toda a cidade.

Para os cariocas, que vivem cercados de morros por todos os lados, a planície parisiense se revela demasiadamente horizontal. Mas pontos altos não faltam para quem quiser apreciar de cima os largos boulevars e o harmônico conjunto arquitetônico, fruto da reforma que Haussman implementou em 1850 e que inspirou o nosso Pereira Passos. Do Grande Arco à Torre Eiffel, passando pela Torre de Montparnasse e a Notre Dame, são inúmeras as opções para driblar o relevo.Escadas do Arco do Triunfo. Para ver Paris do alto é preciso subir!

Em cada caso, a visita à Paris será diferente, dependendo da época do ano, da idade, da companhia, do número de viagens. Afinal, ninguém se banha duas vezes no mesmo rio. Posso dizer que, no inverno, a cidade estará cinza, sem flores, e você, independentemente da quantidade de roupas que vista, sentirá frio ao sair na rua. No verão, tudo estará verde e os chafarizes terão água. Mas a multidão de turistas de todas as nacionalidades (e principalmente japoneses), aglomerada por todos os lados e formando filas intermináveis, será insuportável. E, em qualquer dia, mês ou estação, os franceses estarão lá, sérios e compenetrados em sua leitura durante a rápida viagem de metrô. Por isso, o que tenho a dizer é simples: aproveite tudo e sorria. Paris merece.

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Detalhes que fazem (são) a diferença

Duas ruas com o mesmo objetivo podem ter perfis completamente opostos? Mude de capital que sim.

São Paulo tem a 25 de março. O Rio de Janeiro o Saara. Quem olha uma descrição de uma agência de turismo qualquer sobre as duas ruas provavelmente vai achar que são a mesma coisa: as duas vendem bagulho e quinquilharias das mais diversas. Nas datas festivas isso fica mais evidente. Papais Noel que dançam, cantam, sapateiam e que só faltam fritar as rabanadas do Natal; corações de pelúcia vagabunda (experimenta lavar aquilo! Duas rodadas na máquina de lavar e lá se vai a letra “L” de “Love you”) no dia dos namorados; ovos de páscoa com gosto de gordura hidrogenada para a Páscoa; e infinitos etc. de coisas duvidosas, mas saudáveis para o bolso.

Um olhar (ou um ouvido, olfato, paladar…) mais atento consegue ver muito mais do que essas igualdades e com certeza se diverte com as diferenças locais.

É estranho para um carioca ouvir de fundo musical de um lugar mais popular o tal “sertanejo universitário”. Os ouvidos dele geralmente estão acostumados com as rimas musicais “chão e popozão”. O catálogo de cds piratas são completamente diferentes. E a apresentação deles também. Em sampa há uma espécie de carrinho com uma caixa de som que ajuda quando o rapa aparece. No Rio, tudo fica estendido num pano, que prontamente vira uma sacola para correr do choque de ordem. Para testar as mídias, um mini-dvd portátil ligado por um gato no poste.

Depois da longa caminhada na 25, hora do lanche. E por um momento me perguntei como é que as pessoas conseguem comer o tal Gregão: uma carne gigante que roda em uma grelha ao ar livre. Mas aí lembrei dos salgados “superconfiáveis” com caldo de cana dos orientais do Saara. Quem se arrisca em um, certamente pode cair de boca no outro.

Mas definitivamente o que chama mais atenção são as pessoas. Elas são diferentes na linguagem corporal, na forma de anunciar um produto gritando, na forma de se vestir para ir nesses centros populares.

Em São Paulo todo mundo anda mais alinhado, mesmo na 25 de março. Mas eles têm as baixas temperaturas ao seu favor. No Saara, o calor faz de uniforme a ausência da camisa. Em São Paulo, você ouve um ambulante anunciar que um produto não é “osso”, quando você supostamente pode confiar na qualidade dele. No Rio, outros adjetivos são puxados pelo “s” que só um carioca tem.

Definitivamente elas são diferentes.

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Intercâmbio cultural: Ferreira Gullar e Néstor Perlongher

A ditadura militar no Brasil e a luta pelos direitos homossexuais são dois pontos de partida para observar o intercâmbio cultural que dois escritores de importância no Brasil e na Argentina fizeram, e que deu como resultado vários trabalhos intelectuais. Diante da descrição das obras de Néstor Perlongher e de Ferreira Gullar se mostrará a influência que morar em outro país gerou para estes autores e se analisará, de forma interativa, essas consequências em poemas como “Sujo” ou em pesquisas antropológicas como “O negócio do michê: prostituição viril em São Paulo”.

As vozes dos próprios protagonistas expressam épocas passadas

¿Cómo era su vida en Buenos Aires en aquellos años?
-Empecé a crear hábitos. Veía a amigos, argentinos y brasileños. Caminaba por Corrientes y frecuentaba sus librerías y sus bares. Recuerdo una vez, era domingo de Carnaval, y yo, que en Río solía visitar las escolas do samba, caminaba por la calle Florida con una tristeza sin fin. Me senté en un bar, al sol. Era difícil saber que en tu ciudad todo el mundo estaba de fiesta mientras aquí se vivía la tristeza de un domingo cualquiera. Pero durante la escritura de Poema sucio estuve concentrado en una tarea que me daba alegría. Cuando el poeta escribe sobre las cosas más dolorosas, transforma el sufrimiento en alegría. El arte tiene esa magia.

 

 “Cheguei no dia em que morreu Perón, assumindo Isabelita. A instabilidade era crescente e os exilados chilenos, uruguaios começaram a sumir ou ter que fugir. Sabia-se que a polícia da ditadura brasileira atuava em acordo com a argentina e isso aumentava minha intranqüilidade. Enfim, temia que a qualquer momento, também eu sumisse. Então decidi escrever um poema que dissesse tudo o que me restava dizer, um poema final. Um belo dia, em maio de 1975, comecei a escrevê-lo e só o terminei em outubro. Durante esses meses não vivia outra coisa senão o poema”

Nestor Perlongher (faça click para ouvir)

Bajo las matas
En los pajonales
Sobre los puentes
Hay Cadáveres

En la trilla de un tren que nunca se detiene
En la estela de un barco que naufraga
En una olilla, que se desvanece 

 

“…en el caso del Rio de la Plata, yo lo llamaría “neobarroso”, porque hay como una especie de ilusión de profundidad, que los escritores rioplatenses siempre estamos como debiendo a eso, al producto de la “tos del tango” ”

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo

Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

-¿Usted en qué cree?
Creo que este mundo no tiene explicación. Yo por lo menos no puedo explicármelo –dice y levanta los hombros- . Seguramente Dios no existe. El hombre inventó a Dios para que Dios lo crease.

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Fiquei na dúvida… E agora?

Leu aquele post “No balanço do busão” e agora não sabe qual é o melhor jeito de viajar?

Antes de decidir em que transporte vai fazer o mochilão, o jeito é colocar as coisas na balança e ver o que parece mais vantajoso.

O Europass (o tal do passe do ônibus, para quem não leu nem quer ler o post acima) é muito mais barato do que o passe de trem – o Eurail –, que custa  332 euros (15 dias)  a 535 € (30 dias), mas o segundo é mais confortável do que o primeiro. Quem acha que o trem é muito mais rápido, engana-se. Apenas os expressos são velozes e esses implicam no pagamento de taxas extras. Os chamados trens regionais são tão lentos quanto os ônibus e ainda vão parando em todas as cidades possíveis e imagináveis.

Para quem sonha em conhecer a terra da rainha, é bom saber que o Eurail não inclui a Inglaterra no pacote de viagens.

Quem preferir viajar pelo ar deve optar pelas companhias aéreas low cost, como Ryanair e Easyjet, que oferecem passagens muito baratas com quase nada de conforto, mas boa funcionalidade.

Comparados com os aviões, os dois transportes terrestres perdem na velocidade, mas ganham na localização das estações, que geralmente são bem centrais. Aeroportos costumam ser muito afastados e implicam no gasto extra para chegar até lá.

O fator bagagem também pesa: Ônibus e trem têm um limite de peso/malas por passageiro muito maior do que os aviões. Apesar de a segurança ser maior em aeroportos e viagens aéreas, as malas não correm o risco de extravio numa jornada terrestre. Nesse ponto, vale lembrar que no ônibus a bagagem vai trancada no bagageiro, e no trem, o viajante deve ficar de olho nos seus pertences o tempo todo, porque muita gente entra e sai em cada estação e de repente alguma coisa pode ser roubada.

O resto depende de cada um.

Boa viagem!

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